Desde que a Comissão Europeia apresentou a sua proposta para o Orçamento de longo prazo da União Europeia, temos assistido, no Parlamento Europeu e fora dele, ao encarnar, por parte do PSD e dos seus congéneres europeus, das célebres personagens da banda desenhada belga, Dupond e Dupont.
Num incansável jogo de espelhos, em que já não se distingue um do outro, os mesmos que desenharam a proposta de orçamento para 2028-2034, e que representa um corte severo nas verbas e nas políticas destinadas a promover o nosso desenvolvimento económico e social, bem como a agricultura e as pescas, são hoje aqueles que tentam fazer crer que tudo não passou de um erro de percurso.
Não foi. Foi, antes, a expressão de uma visão errada e essa visão tem responsáveis. Esperemos agora que os próximos tempos permitam corrigir o rumo e rever esta proposta, em benefício do próprio projeto Europeu.
Foram estas as posições que defendi esta semana, no importante fórum promovido em Bruxelas, pela EURODOM, representativa dos setores agrícolas das nossas congéneres RUPs francesas.
Igualdade
A Semana Europeia da Igualdade de Género recorda-nos que, apesar dos progressos alcançados, homens e mulheres continuam a viver realidades distintas.
Eles ganham, em média, mais 12%. Têm mais lugares no Parlamento, nos conselhos de administração e nos governos.
Elas trabalham mais, dentro e fora de casa, e, demasiadas vezes, pagam esse esforço com o silêncio e a invisibilidade. Pior ainda, continuam a ser vítimas de uma violência que não pode ser aceite, ignorada ou relativizada.
Homens e mulheres são diferentes, sim, mas têm de ser iguais em direitos, em oportunidades e em respeito.
É para isso que devemos trabalhar: para que chegue o dia em que já não seja preciso assinalar esta semana, porque a igualdade será, finalmente, a realidade.
Dar com uma mão e tirar com as duas
A igualdade também se mede na forma como tratamos os nossos territórios e aqueles que neles vivem e trabalham. E aqui, mais uma vez, a incoerência política mostra o seu rosto.
O Governo da República, através do ministro da Agricultura e Pescas, afirma em Lisboa que cabe à União Europeia garantir o financiamento do POSEI, programa essencial para a agricultura dos Açores.
Mas, em Bruxelas, é o próprio Governo que trava as soluções que poderiam dar maior flexibilidade a esses apoios. É inaceitável. Não se pode dizer que falta dinheiro europeu e, ao mesmo tempo, querer bloquear os mecanismos que o Parlamento Europeu aprovou recentemente no âmbito da simplificação da Política Agrícola Comum, precisamente para permitir uma utilização mais eficaz desses fundos.
É o tipo de contradição que se paga caro e quem paga são os agricultores açorianos, com o seu rendimento e a sua estabilidade.
Também aqui se exige tanto ao Governo da República como ao Governo Regional que façam o que lhes compete: governar - sem subterfúgios, sem engodos e sem "jogos do empurra".
Nota: como sempre, há quem não resista à mais tentação de julgar que os cidadãos podem ser facilmente manipulados. A fórmula é básica: as coisas boas são sempre deles. As más a culpa é sempre dos socialistas. Enfim, "Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo"